quarta-feira, abril 19, 2006

Olhar desbotado de uma criança adulta


Vivo meus dias de nostalgia cinza,
Pontadas de uma dor sem sentido nem lugar,
Inverto meus sentidos,
Odeio minhas palavras todas,

Escarro minhas vísceras de fumante pagão,
Perco-me de deuses e demônios,
Abandono minha humanidade a um sistema impossível,
Refuto minhas conquistas,
Minha coerência não vale,

Na sala ainda vejo o velho sofá,
Tão cheio de saudades,

No vazio da lareira onde sempre aqueci o coração,
Me encontro com chamas e estrelas, pulsante,
Beijos embriagados que nunca tive,

Ainda vejo minha doce infância,
Correndo pelos corredores,
Corre, corre, corre!
E cai...
Se machuca...
Mas ninguém está em casa para recolher as lágrimas do chão,

O primeiro e o último amor,
E todos os outros, tão certos e tão errados,
Improváveis em sua imaturidade insustentável,
Um jardim mal cultivado por um descrente na vida,
Na dor...

Sinto em cada cor uma nova sensação,
Que me conforta e assusta,
Meus olhos acalentam lembranças marejadas,
Um nunca mais houve nada igual,
Turvos de uma não-dor,
E de uma não-felicidade
Que os filmes não pintaram,
Que os poetas não gritaram,
E que os homens não sentem mais,

Carrego nos ombros o peso da paixão,
Da amplitude das palavras,
Conceitos, tão sozinhos de si mesmos.

Os ouvidos se encarregam das risadas,
Branco e preto, remembro,
Sorrisos esculpidos na areia,
Que o mar há de levar,
e a ampulheta lavar,
Deixando o amargo do insubstituível,
Do que já se existiu,

E nas lembranças desbotadas,
Na nostalgia garoa,
Fecho os olhos,
Sou tudo que sempre desejei,
Não me encaixo em tempo e espaço,
Sou a mais profunda essência,
E pulso, sem razão.

2 comentários:

Vinicius disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Vinicius disse...

Provavelmente foi o mais livre, mais emocionado e menos estético.
A qualidade se mantém a absurda de sempre.
^___^
Bjundas maninho!
Ps: O Comentário acima fui eu quem deletou, pq havia um erro grotesto de português.
=D