quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Fora do Tom

Você me diz que ando assim, meio fora de tom
Que minha voz te destempera a harmonia,
que o meu falar te descompassa o dia
e que nesse andamento o fim da dança vai
se dar com outro alguém

Você me diz que ando assim, meio fora de tom
Que já não ando mais na linha
Que preciso a vida afinar
Porque meu grito enrouqueceu
quando da manhã fez-se breu
e teu peito emudeceu

Você me diz que ando assim, meio fora de tom
para não colorear o som
pois já não há mais brilho na pintura
e que eu não caibo no enquadro
das tuas obras futuras

Você me diz que ando assim, meio fora de tom
mas saiba você que já canto sozinho
e que em outros cantos encontrei lugar
E que esse teu tom...
não me deixa menor.

domingo, junho 12, 2011

- Você cheira a cigarros...
Foi então que respirei aliviado,
Ainda existia.

domingo, março 20, 2011

Você Você

Você,
Que me deseja bom o dia
Que me acolhe o despertar
e me adoça o café

Você,
Que me sossega o fim do dia
Que me aquece a boca fria
E me alimenta de amor

Você,
Que me entristece quando parte
Me aflige a saudade
e me desmorona em solidão

Você,
Que ao lembrar-se do abandono
Quando torna, a cama orna
de brancura e paixão

Você,
Que tantas vezes se entristece
Quando da noite a lua desce
E a comida amanhece de tanto esperar

Você,
Que me toma para dança
Enquanto toda vizinhança
já se acomoda a sofrer

Você,
Que do espinho faz a flor
Que das entranhas cria amor
E da vida faz um sonho bom

quarta-feira, setembro 15, 2010

Atonal Cotidiano

Estava tudo programado. O horário do trêm, o ponto de encontro, o caminho até a exposição, os prováveis quadros que seriam vistos e talvez até os tópicos a serem discorridos desprenciosamente durante a tarde ensolarada de segunda-feira. Estava tudo programado e posto à mesa como um dia dos mais quaisquer.

Haviam se conhecido a pouco e ainda notava-se na fala o tom cauteloso de quem explora um território desconhecido e encantador, o cuidado de quem anda no escuro com os olhos bem abertos e curiosos. Seria um encontro comum para quem ainda está por se conhecer, mas as forças mitológicas do deus das travessuras e da trapaça, Loke, pareciam crescer em torno da tarde e conspirar contra o que lhes parecia tão cotidianamente conveniente. Seria um gozo ver algo tão simples se esvaindo por entre as alamedas dos desencontros.

Trocavam passos calmos e orientados quando o solo se desfez e da previsão fez-se ausência: Todas as portas se fechavam ruidosas em face dos dois desconhecidos, suas expectativas se desvaneciam como dentes de leão ao vento.

Mas em meio as gargalhadas de Loke deu-se o improvável: Esqueceram-se os dois das imposições divinas e riram ao léo, despreocupados já com o que haveriam de ser. Sem se darem conta, soavam atonais e unissonos sobre o concreto da cidade. Languidos formavam uma só massa de alegria e cumplicidade.

O deus, frustrado, proferia impróprerios e os transeuntes não entendiam de onde vinha toda a felicidade que os dois difundiam pelas ruas, em plena segunda-feira. Desdenhavam talvez por ainda terem os corações muito pequenos para compreender.

O mundo se fez novo e os desconhecidos optaram por serem inomeáveis. Já não importava o que eram. Descobriram um novo afeto no coração do caos e pela primeira vez depois de muito tempo, o globo giratório terrestre parecia girar corretamente dentro de sua órbita desorientada. As pilherias de um eram o abrigo do outro.

A noite finalmente repousou seus olhos no par e o luar resolveu reverenciar a graça mundana. Cantavam, caminhavam e careciam do toque um do outro, de mãos que se encontram e desencontram, de abraços que se cruzam e descruzam. Continuaram a caminhar e quando menos perceberam o dia havia acabado com a mesma rapidez que se formara. Se dirigiram então a lados opostos e deixaram suas sortes para o vir a ser que lhes aguardava, felizes.

quarta-feira, julho 07, 2010

Findos anos

Tenho em mim a insasetez
De quem descobre a verdade,
E a perde...

Olho por entre as frestas
De minha janela garôa
E apenas sinto.
Sinto o peso da existência
Dos que já despertaram
Para muitas primaveras
E se recolheram
Para o branco inverno,

Vivi em fragmentos
Rapidamente
Como um estopim
Que se alastra
Pelas redes mundias
Envadindo madrugadas alheias
Sem pedir benção ou permissão,
E com experiências tantas
Que talvez tenha me perdido
E não mais me queira,

Ando com o senso
De quem bate à porta
Para deixar o lar...
Vivo um caos frenético
E me entrego aos anos
De quem já os deixou de contar...

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Para uma menina...

Porque você é uma menina com três gérberas e me acorda cantando melodias tão doces que até o sol desce do seu altar e afasta as nuvens para ouvi-la cantar. E aí ficamos os dois marcando tempo na cama até tarde do dia, sorrindo e mordendo o riso para fazer inveja à cidade e sua rotina garoa.



E porque você é uma menina com três gérberas e chorou no show de rock em cima dos meus ombros (literalmente!) e viu as pupilas do nosso herói brilharem ao te ver, como as minhas brilham quando você me chama de Bonito. E porque você, quando sonha que não te amo mais e te troco por outra, acaba ficando toda receosa do meu bem-querer e fica blasé até eu dizer nos seus ouvidos que te amo e fazer cócegas na sua barriga. E porque você usa aquele vestido azul de gola rulê que eu adoro e que te deixa com a ar mítico de menina-mulher. E porque você tem um semblante que é a materialização da paz e da leveza, com seu sorriso arco-íris e seu riso macio.



E porque você é uma menina com três gérberas e tem um andar feminino que faz com que os homens na rua caiam deslumbrados em desejo. Mas só eu sei que isso é pose sua e que em casa você vive esbarrando nos móveis quando está atrapalhada. E porque você não tem um ursinho chamado Nounouse, mas ganhou de natal um cachorrinho chamado Leonardo ( que em verdade deveria se chamar Gustavo, mas como esse é o nome de um nosso amigo muito petitico, achei por bem livrá-lo do risco!) que será seu confidente na minha ausência. Só não espere apoio integral quando brigarmos e você, muito revoltada e zangada, proferir impropérios a meu respeito, porque ele também é muito meu chapa.



E sendo você uma menina com três gérberas eu te perdôo por não ter prestado atenção quando em um show te cantei “bonita” do Tom, e você ficou toda confusa quando te olhei azedo do palco, achando que eu queria mais cerveja. E porque quando você fica triste e engole lágrimas secas, tenta fazer cara de apresentadora de tele-jornal, mas não consegue erguer o sorriso nem até a metade. E eu sei que quando você faz isso é para me poupar e não me preocupar, mas te peço que me tenha sempre que necessário como seu fiel escudeiro e me deixe compartilhar também as horas de pranto, quando ele lhe bater a dor.



E porque você é uma mocinha que ganhou gérberas três vezes esse mês, afinal de contas, as primeiras o gato comeu e as outras já morreram de velhinhas. E porque eu me acostumei a ser seu travesseiro e dormir em nó com você. Ah, se soubesse você a imensidão insuportável que se torna uma cama nas noites solitárias de ti. Até os cobertores se enternecem e, piedosos, tentam cobrir o vazio...Mas lhes falta o calor dos seus abraços.



E já que você é uma linda mulher com três gérberas e eu acabei de deixar seu apartamento de uma noite de sexta feira que repousei na memória e no coração, eu resolvi brincar de ser Vinícius de Moraes porque sei o quanto te agradam as histórias e melodias desse nosso compadre de cabeceira. Já parece que faz uma copa do mundo que desci o elevador do seu prédio depois de ter dormido tão pouco por passarmos a noite inteira nos amando e matracando. Aposto que o porteiro ainda deve estar tentando decifrar o sorriso de desbunde com que saí para a manhã de sábado. E eu te gosto tanto assim porque sei que fazemos bem um para o outro e você é a minha bonita, minha cantora vespertina, minha amiga querida, minha fazedora de delícias gastronômicas, minha roqueira very crazy, minha doce bossa, meu sambinha feliz, minha amante, minha companheira, minha implicante, minha consciência, e sobretudo, porque você é uma mulher incrível com três gérberas.

quinta-feira, dezembro 18, 2008

Amiga

Amiga

-Mamãe, trarei uma amiga aqui em casa!
Dizia eu quando queria amar.

Mamãe e eu nos entediamos
Num silencio nebuloso,
Amiga e amante nunca foram de certo
Amores em comum...

A amizade era recebida em meu portão,
Levada até o quarto,
E de portas fechadas
Existia intensamente por debaixo de meus lençois!

A música flutuava e penetrava os sentidos,
Abafando todas as melodias desesperadas de amor...

Saíamos rubros de desejo...
Mal olhávamos o julgamento nos olhos,
Partíamos para a porta,
E nos despedíamos,
Assim...
Como bons amigos.