sexta-feira, junho 02, 2006

Ela, O trem das onze


Chega uma hora em que as coisas que te sustentam a alma não são mais eficientes, o cansaço te toma toda a respiração. Não sobram grandes tristezas, nem alegrias. Sua existência é simplesmente inerte, uniforme.

As despedidas são indiferentes, sinônimos de tempo que já se fez, e que já não pode ser mais nada além disso, não é de mais ninguém. Dormir na grama agora é sujo, e o céu já não brinca com suas nuvens, todas as formas nas quais extraímos signos.
Os sorrisos perderam o encanto, os lábios não se conversam, nem os toques se conquistam. Esses tempos são feitos de dores e incoerências, verdades indecentes, e pudores mascarados.

A sinceridade foi deixada para o coração, que já não bate mais. O amparo é sonho não sonhado, que desatina no minuto e não dura o tempo que merece. A poesia perde suas formas e malícias, vira ignorância intelectualizada, tão longe do amor, ríspida. As palavras assustam e as sensações ofuscam. Sinto falta do luar, do calor...de onde ir, nesse breu vou sem rumo. Mas já perdemos a noção da hora, e agora a profundidade devora.

Devo horas e honras, mal- tratos e beijos, abraços e escarros. Sou escravo de minha própria condição, sou homem em contradição.Esse desespero medido e melancólico, essa falta de amor, esse desprezo. Como posso me ver longe de qualquer angústia? Como posso eu acreditar no que já não tenho? Como podem os poetas significarem a ausência?

O trem passa, preto e branco, saudades.
A noite se vai...o dia não chega,
O sopro ecoa e passa despercebido,
Amanheço todos os meus dias,
nem todos são meus...
se foram, e marrentos marcaram,
marcaram um coração vazio,
e tão cheio de solidão.


02/06/06 23:34hs

2 comentários:

Isadora Ferraz disse...

imagens bonitas, adoro como pinta o preto e o branco!
não sabia que vc tinha um blog, gostei muito!!

Anônimo disse...

Vi, esse foi um dos textos mais bonitos q vc jah fez. Achei mto bom mesmo. Vc soube mexer com as palavras certas! =]
Luv ya
Beijao