Samba de Quarta

Esse seu ar sereno,
E tuas palavras meigas,
Essa sua voz pelúcia,
E tua melodia de sambista,

Os versos são tão meus,
Mas é da tua boca que brotam,
Num jogo embriagado,
De onde você acaba em mim,

Os olhos claros,
Claro, desde os olhos,
Com esse peito sem coração,
Um já quase não humano,

Essa tua tristeza que me rasga,
Esse teu riso que me ofusca,
Poesia sem querer,
De tanto querer...

E enquanto a outra,
Me deixa só sozinho,
Fala com o outro,
Ama o outro...

Me mareja o olhar,
E me faz escutar solidão,
Você me pega na mão
E mostra a tua canção...

Quero um olhar,
Um abraço, um beijo...
Quero a mão e o braço inteiro,
Meu bem é querer...

Me dê mais um minuto,
mais uma rima de dor,
mais uma nota,
mais uma chance de amor,

ah, se eu fosse Chico,
Não seria Vinícius,
Se soubesse rimar,
Não seria sofrido,

Mas como não sou
Nem Chico nem Vinícius,
Embebedo meu samba,
Entorpeço meus passos pela avenida,

Amante garoa,
Amante sozinho, inho, inhozinho...
Feito bossa nova e distorção,
Embalando a solidão de coração,

Me tomo de paixão
De não sei o que,
Por nada de mais,
Danço sozinho sem razão...

E fim!